A ponte entre o conhecimento científico básico e o desenvolvimento de produtos e processos inovadores. Essa é uma pequena tradução do que é a pesquisa translacional, que ainda vem atrelada a muito conhecimento e técnica para promover avanços na prevenção, diagnóstico e terapias, com o intuito de melhorar significativamente o sistema global de saúde. E é isso que o Laboratório de Psiquiatria Translacional, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da Unesc tem feito ao longo de sua existência. Com 20 anos de atuação, o laboratório tem passado por muitas transformações e descobertas, resultando em uma aplicabilidade real do conhecimento, melhorando a aplicação clínica de novos conceitos e proporcionando benefícios diretos aos principais interessados neste processo: a população.

“O ensino, a pesquisa e a extensão são indissociáveis, pois, além de contribuir para a produção universitária, contempla o papel solidário, social e cultural para com a sociedade. E é isso o papel de uma universidade comunitária: trazer clareza e mostrar resolução. Ela não só faz o pesquisador indagar, questionar, investigar sobre determinado tema proposto, como coloca o acadêmico a solucionar problemas reais juntamente com o corpo docente. A pesquisa é, portanto, para o Ensino Superior uma ferramenta indispensável e deve certamente ser estimulada pelos professores, uma vez que atua como responsáveis pela propagação do conhecimento e a iniciação à pesquisa científica”, enaltece a reitora Luciane Bisognin Ceretta.

Ela lembra que nesses 20 anos de atuação, o laboratório se tornou destaque nacional e internacional. “São mais de mil artigos publicados ao todo e com pesquisadores de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o que é motivo de muito orgulho para todos nós”, enfatiza.

Médico psiquiatra, João Quevedo, foi o fundador do Laboratório. À época, além dele, outros três alunos de iniciação científica, Gustavo Feier, Fabiano Rosa Agostinho e Márcio Rodrigo Martins fizeram parte do processo que se inseria, naquele momento, como embrião do que viria a ser o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unesc, um programa de mestrado e doutorado. “Quando foi fundado já estava estabelecido o Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais do qual eu fazia parte numa linha de pesquisa chamada neurotoxicologia ambiental. Para a realização dos experimentos das dissertações de mestrado dos meus alunos havia a necessidade de um espaço laboratorial apropriado para os estudos das neurociências. Naquele tempo era chamado de laboratório de neurociências. Era o único professor do programa e depois a equipe se expandiu até a equipe atual”, lembra Quevedo.

Para ele, comemorar 20 anos é motivo de muita honra. “A trajetória do laboratório tem sido de muito sucesso com formação de inúmeros alunos de mestrado e doutorado e pós-doutorado, os quais ocupam posições como professores em universidades do estado, país e no mundo, o que é motivo de orgulho. É um marco muito importante. Uma instituição de pesquisa a nível laboratorial que dure 20 anos não é algo relativamente comum na ciência brasileira”, destaca.

Hoje, Quevedo também atua como professor da Clínica de Depressão do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas (UTHealth), nos Estados Unidos.

Mas o que é e como funciona o laboratório de Psiquiatria Translacional? Ele estuda o sistema nervoso central sob ótica que integra as ciências básicas e a clínica. Primeiramente, procura entender o funcionamento do cérebro normal para, então, compreender os processos patológicos e seu tratamento. Nas ciências básicas, apoia-se na Neuroquímica e Neurofisiologia, enquanto, na clínica, apoia-se na Psicologia, Neurologia, Neurocirurgia e Psiquiatria. As principais linhas de Pesquisa do Laboratório são: Depressão, Transtorno Bipolar, Esquizofrenia e Alcoolismo.

Segundo a professora Samira Valvassori, que coordena o Grupo de Pesquisa em Transtorno Bipolar do laboratório, o laboratório é o mais antigo da área das ciências da saúde da Unesc, que inicialmente era chamado de Laboratório de Neurociências. “O laboratório vem evoluindo há 20 anos e formando alunos de iniciação científica, de mestrado e de doutorado. Possui uma relação importante com meio acadêmico e com a sociedade, contribuindo com a formação de profissionais e divulgando o conhecimento para população sobre a saúde mental, por meio de simpósios e de ações de extensão. Com mais de mil artigos publicados ao todo e com pesquisadores de produtividade do CNPq, o Laboratório se tornou destaque nacional e internacional. E agora celebra seus 20 anos, com muita ética e com pesquisas de qualidade”, comemora.

A área da esquizofrenia é comandada pela pesquisadora Alexandra Ioppi Zugno. “Utilizamos modelos para tentar reproduzir os sintomas encontrados nas pessoas e, desta forma, tentamos desvendar os mecanismos e entender melhor a doença para que possamos, de alguma forma, contribuir para a ciência como um todo”, explica.

 

Alcoolismo

A dependência química também está dentro das linhas de pesquisa. E é com o professor Eduardo Rico que as descobertas são realizadas. O grupo trabalha com testes realizados em organismos modelos e pesquisa clínica em parceria com o Instituto Psiquiátrico de São José.

“Nosso grupo trabalha com diversas frentes no entendimento dessa doença que envolve não só testes realizados em organismos modelos, mas também estudos envolvendo humanos no qual trabalhamos também com os processos e mecanismos desenvolvendo a desintoxicação. Além disso, testes que são feitos com os organismos modelos são bastante úteis não só para entender a base da dependência química e das questões ligadas a ansiedade, a depressão e ao dano neural que ocorre pelo álcool, mas também os testes de possíveis substâncias candidatas que possam ser relevantes para uma estratégia terapêutica para o alcoolismo”, fala.

Impactos das pesquisas

As pesquisas científicas resistem e desempenham um papel crucial no desenvolvimento do Brasil e do mundo, além de proporcionar melhorias diretas para a sociedade. É o que salientou a pesquisadora Gislaine Zilli Réus. “Muitos cientistas e pesquisadores de universidades do Brasil e do mundo acabam tendo acesso às publicações e, muitas vezes, são realizadas outras pesquisas a partir dessas ou desses dados. Além disso, a sociedade local acaba se beneficiando devido às pesquisas que fizemos porque muitas vezes nós investigamos uma patologia e podemos descobrir uma outra situação ou um problema nutricional ou outro transtorno psiquiátrico a partir disso”, pontua.

Ela atua na linha de pesquisa estudando aspectos fisiopatológicos da depressão que acomete um percentual bem significativo da população. Além disso, busca novas alternativas com efeito mais rápido e mais eficaz para o tratamento da depressão e outras doenças que estão associadas, como Parkison, ansiedade e, mais recentemente, a Covid-19, que tem impactado mais significativamente a saúde mental da população.

 

Sobre o laboratório

No laboratório são empregadas diversas estratégias metodológicas com o intuito de compreender o funcionamento normal do sistema nervoso central, bem como os mecanismos envolvidos nas doenças psiquiátricas. Além disso, o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas está atrelado também a todas as linhas de pesquisa do laboratório. O modelo translacional (da bancada à clínica) de pesquisa é o referencial dos projetos desenvolvidos em laboratório, no ambulatório ou em nível hospitalar.

A equipe é composta por professores pesquisadores, pesquisadores associados, acadêmicos de mestrado e doutorado do programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da Unesc, alunos bolsistas de iniciação científica e alunos de Graduação que participam de maneira voluntária na execução de projetos científicos.

O espaço tem convênios e parcerias com diversos grupos de pesquisa do Brasil e do exterior, havendo constante intercâmbio de pesquisadores e alunos. As atividades de pesquisa são financiadas por recursos das agências de fomento, como CNPq, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e da própria Unesc.

Anualmente, promove o Simpósio de Psiquiatria na Interface Cérebro e Mente, ocasião em que são discutidos os mais recentes avanços na pesquisa dos principais transtornos psiquiátricos.